Publicado em: 02/05/2019 19:29 Atualizado
O Supremo Tribunal Federal (STF) vai ter de explicar ao Tribunal de
Contas da União (TCU) por que decidiu fazer uma licitação de R$ 1,3 milhão para
comprar medalhões de lagosta e vinhos importados - e somente os premiados -
para as refeições servidas pela Corte. A investigação se baseou em reportagem,
publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na última sexta-feira, dia 26 de
abril. Ao transcrever a matéria, o subprocurador-geral do Ministério Público
junto ao TCU, Lucas Rocha Furtado, afirmou que a notícia teve "forte e
negativa repercussão popular". Furtado também pediu a suspensão da licitação
por meio de medida cautelar.
"E é de se reconhecer que essa repercussão não causa surpresa: os
requintados itens que compõem as tais 'refeições institucionais', previstos no
Pregão Eletrônico 27/2019, contrastam com a escassez e a simplicidade dos
gêneros alimentícios acessíveis - ou nem isso - à grande parte da população
brasileira que ainda sofre com a grave crise econômica que se abateu sobre o
País há alguns anos", declarou Furtado, em sua representação.
O MP pede "medidas necessárias a apurar a ocorrência de supostas
irregularidades nos atos da administração do Supremo Tribunal Federal que visam
à 'contratação de empresa especializada para prestação de serviços de
fornecimento de refeições institucionais, por demanda, incluindo alimentos e
bebidas'."
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) foi à tribuna do Senado para criticar a
proposta e informou que entregou duas representações ao TCU, uma para suspender
o contrato imediatamente e outra para fazer uma auditoria nos últimos dez
contratos firmados pelo STF. "É um absurdo completo. Queremos saber cada
detalhe desses contratos alimentícios, e dos contratos etílicos também",
disse à reportagem.
Na semana passada, o servidor público estadual Wagner de Jesus Ferreira,
do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), também entrou com uma ação
popular na Justiça Federal do Distrito Federal contra o pregão eletrônico do
Supremo. A Corte havia dito que o edital seguiu padrão do Ministério das
Relações Exteriores.
Menu exigido pela licitação ia de brunch a coquetel
O menu exigido pela licitação dos ministros dos STF inclui desde a
oferta café da manhã, passando pelo "brunch", almoço, jantar e
coquetel. Na lista, estão produtos para pratos como bobó de camarão, camarão à
baiana e "medalhões de lagosta". As lagostas, destaca-se, devem ser
servidas "com molho de manteiga queimada".
A corte exige ainda que sejam colocados à mesa pratos como bacalhau à
Gomes de Sá, frigideira de siri, moqueca (capixaba e baiana) e arroz de pato. O
cardápio ainda traz vitela assada, codornas assadas, carré de cordeiro,
medalhões de filé e "tournedos de filé".
Os vinhos exigiram um capítulo à parte no edital. Se for tinto, tem de
ser tannat ou assemblage, contendo esse tipo de uva, de safra igual ou
posterior a 2010 e que "tenha ganhado pelo menos 4 (quatro) premiações
internacionais". "O vinho, em sua totalidade, deve ter sido
envelhecido em barril de carvalho francês, americano ou ambos, de primeiro uso,
por período mínimo de 12 (doze) meses."
Se a uva for tipo Merlot, só serão aceitas as garrafas de safra igual ou
posterior a 2011 e que tenha ganho pelo menos quatro premiações internacionais.
Nesse caso, o vinho, "em sua totalidade, deve ter sido envelhecido em
barril de carvalho, de primeiro uso, por período mínimo de 8 (oito) meses".
Para os vinhos brancos, "uva tipo Chardonnay, de safra igual ou posterior
a 2013", com no mínimo quatro premiações internacionais.
Em sua representação, o subprocurador-geral do Ministério Público junto
ao TCU, Lucas Rocha Furtado afirma que a despesa "que se pretende realizar
por meio daquela licitação encerra afronta ao princípio da moralidade
administrativa" prevista na Constituição.
"Não se pode exigir, pois, dos administradores públicos,
simplesmente o mero cumprimento da lei. De todos os administradores, sobretudo
daqueles que ocupam os cargos mais altos na estrutura do Estado, deve-se exigir
muito mais. Dos ocupantes dos altos cargos do Estado, deve-se exigir conduta
impecável, ilibada, exemplar, inatacável. A violação da moralidade
administrativa importa em ilegitimidade do ato administrativo e, sempre que for
constatada essa violação, deve ser declarada, quer pela via judicial, quer pela
via administrativa, a nulidade do ato ilegítimo", declarou Furtado.
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