Presidente
do Ibama se demite após ministro questionar contrato de aluguel de caminhonetes
Um dia após se envolver em uma
discussão com o presidente Jair Bolsonaro e o novo ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, a presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais (Ibama), Suely Araújo, pediu exoneração do cargo nesta
segunda-feira (7). O pedido foi aceito de imediato por Salles. Ela será
substituída pelo procurador ligado ao Ibama Eduardo Bim, que é especialista em
Direito ambiental e tributário.
Em nota divulgada ontem à noite,
Suely criticou comentários feitos presidente da República e do ministro do Meio
Ambiente questionando um contrato de R$ 28,7 milhões feito pelo Ibama para o
aluguel de veículos. Segundo ela, eles demonstraram "completo
desconhecimento da magnitude" do órgão e das suas atribuições.
A confusão começou nesse domingo, quando
Ricardo Salles reproduziu, no Twitter, um trecho do Diário Oficial da União com
o extrato do contrato. "Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só
para o Ibama...", escreveu.
Bolsonaro não só compartilhou a
mensagem como acrescentou: "Estamos em ritmo acelerado, desmontando
rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e
serão COMPROVADAS e EXPOSTAS. A certeza é: havia todo um sistema formado para
principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!".
O presidente apagou o comentário posteriormente e deixou no ar apenas o
questionamento feito pelo auxiliar.
Na carta de demissão, Suely diz que
deixa o cargo por saber pela imprensa que Eduardo Bim seria o seu sucessor. O
ministro do Meio Ambiente afirmou que não há relação entre a exoneração da
presidente do Ibama e a polêmica de domingo. A troca no comando do órgão,
segundo ele, já estava prevista.
Na nota divulgada ontem à noite,
Suely negou que houvesse irregularidades no contrato do instituto questionado
pelo n ovo ministro. "A presidência do Ibama refuta com veemência qualquer
insinuação de irregularidade na contratação. Espera, por fim, que o novo
governo dedique toda a atenção necessária às importantes tarefas a cargo do
Ibama, e não a criar obstáculos à atuação da Autarquia", concluiu a atual
presidente.
De acordo com a agora ex-presidente
do Ibama, o valor do contrato foi reduzido ao longo do processo licitatório,
aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Suely sugeriu que o novo
governo pretende criar obstáculos à atuação do órgão.
Veja a íntegra da carta de demissão
de Suely Araújo:
"Excelentíssimo Senhor Ministro,
1. Cumprimentando-o cordialmente,
sirvo-me do presente para formalizar minha solicitação de exoneração do cargo
de Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama).
2. Considerando que a indicação do futuro Presidente do Ibama, Sr.
Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na imprensa e internamente na
Instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do novo Governo, entendo
pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim que a nova gestão assuma
a condução dos processos internos desta Autarquia
A presidente do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Suely Araújo, pediu
exoneração do cargo nesta segunda-feira (7).
O pedido foi feito um dia após o novo ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter criticado no Twitter um contrato de locação
de veículos do órgão.
Suely assumiu o cargo no Ibama no governo do
ex-presidente Michel Temer. No pedido de exoneração (leia a íntegra mais abaixo), ela
argumentou que, mesmo antes do presidente Jair Bolsonaro assumir, o nome do seu
sucessor já vinha sendo "amplamente" comentado na imprensa e dentro
do próprio Ibama.
Procurado
pelo G1, o Ministério do Meio Ambiente informou que a
"substituição da presidente do Ibama já estava prevista" e que a
nomeação de Eduardo Bim para o cargo ´"deve sair nos próximos dias
Aluguel de caminhonetes
A polêmica em torno do aluguel de caminhonetes começou com uma postagem do ministro do Meio Ambiente no Twitter. Veja a sequência dos fatos:
- Ricardo Salles questiona valor de contrato
"Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA....", escreveu o ministro no Twitter, neste domingo (6
Ele se referia a um contrato do Ibama, assinado em dezembro de 2018, no valor de R$ 28,7 milhões para aluguel de caminhonetes a serem usadas pelo órgão.
- Bolsonaro comenta declaração de Salles, depois apaga
Também no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro chegou a fazer um comentário sobre a declaração de Ricardo Salles. Ao compartilhar o post do ministro, o presidente disse que o governo está desmontando "montanhas de irregularidades".
"Estamos em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão COMPROVADAS e EXPOSTAS. A certeza é; havia todo um sistema formado para principalmente violentar financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!", escreveu o presidente.
Depois, Bolsonaro apagou o texto e manteve apenas o compartilhamento da mensagem do ministro.
- Suely responde por meio de nota divulgada pelo Ibama
No mesmo dia, a presidente do Ibama disse em nota que refutava com “veemência qualquer insinuação de irregularidade na contratação”. Ela explicou que o contrato previa aluguel de 393 caminhonetes adaptadas para fiscalização e atendimento a emergências ambientais (como incêndios), que seriam usadas nos 26 estados e no Distrito Federal. Suely também disse que o contrato foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
“A acusação sem fundamento evidencia completo desconhecimento da magnitude do Ibama e das suas funções. O valor estimado inicialmente para esse contrato era bastante superior ao obtido no fim do processo licitatório, que observou com rigor todas as exigências legais e foi aprovado pelo TCU”, disse Suelly na nota.
- Ricardo Salles diz que não levantou suspeita sobre o contrato
Ainda neste domingo, novamente no Twitter, Ricardo Salles afirmou que não levantou suspeita sobre o contrato, mas quis chamar atenção sobre o valor, que considerou elevado.
"Não levantei suspeita sobre o contrato, apenas destaquei seu valor elevado, conforme meus esclarecimentos na própria postagem. O valor elevado também foi questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez dias da troca de governo", escreveu o ministro.
Leia a íntegra do pedido de demissão da presidente do Ibama:
Excelentíssimo Senhor Ministro,
1. Cumprimentando-o cordialmente, sirvo-me do presente para formalizar minha solicitação de exoneração do cargo de Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
2. Considerando que a indicação do futuro Presidente do Ibama, Sr. Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na imprensa e internamente na Instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do novo Governo, entendo pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim que a nova gestão assuma a condução dos processos internos desta Autarquia.
3. Assim, comunico que a partir de amanhã, 08 de janeiro, não exercerei mais as funções de Presidente do Ibama. Nesse sendo, solicito que quando da publicação do ato, nele conste que trata-se de exoneração a pedido com efeitos a partir de 08/01/2019.
Respeitosamente, Suely Araújo
Mudanças no Meio Ambiente
Na nova configuração dos ministérios, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro, o Ibama continuou vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Outros órgãos foram transferidos de pasta. É o caso do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que saiu do Meio Ambiente e foi para a Agricultura. Uma das atribuições do SFB é trabalhar pela recuperação da vegetação nativa e recomposição florestal.
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