"Não é só pelo preço dos combustíveis, é por intervenção militar e
contra os comunistas". Em diversos grupos fechados dedicados a greve dos
caminhoneiros, extremistas de direita tentam influenciar os rumos do movimento
e a reação de apoio impressiona
24/MAY/2018 ÀS 16:09
Pauta inicial reivindicava redução no preço do diesel, mas escalada da
greve atraiu outros grupos
A BBC Brasil revelou
que teve acesso a grupos fechados destinados a compartilhar informações sobre
a greve dos
caminhoneiros no WhatsApp. Nesses canais, foi observado um
crescente aumento do discurso de extrema-direita com o intuito de ditar os
rumos do movimento grevista.
Em um vídeo divulgado nos grupos, um homem manda
o seguinte recado em frente a uma impressora industrial que mostra centenas de
adesivos prontos para serem colados nos vidros dos caminhões:
“Oi,
galera. Sou caminhoneiro, estamos juntos aí na greve e estamos fazendo adesivos
para colar nos nossos carros, nos dos colegas e nos de todo mundo que apoiar
essa greve. Intervenção militar já. Se a gente não tirar eses corruptos do
poder, a gente não vai para frente, não.”
Em outro vídeo, um motorista grita: “Representando o caminhoneiro brasileiro, o
transportador de carga. Aqui tem brio, aqui tem sangue. Estamos parando São
Paulo, parando o Brasil e indo para Brasilia destituir os três poderes
corruptos. Intervenção militar já. O povo está cansado de sustentar estes
corruptos. Aqui é patriota.“.
A greve organizada por caminhoneiros extrapolou
sua pauta inicial, concentrada na exigência da redução nos preços dos
combustíveis, e vem ganhando vozes em apoio à intervenção militar, vindo tanto
de dentro quanto de fora do grupo.
“As
reações à greve dos caminhoneiros, amplamente apoiada pela população,
demonstram que o brasileiro está sem paciência alguma com as ‘autoridades’. As
condições são ideais para uma verdadeira revolução que refunde o Brasil. Mas onde
está a liderança desse processo? Escrevam no para-brisa dos caminhões e carros.
Intervenção militar!“, diz uma das
mensagens mais aplaudidas.
Em um grupo influente no Facebook — o “Caminhões
Top (Só Elite)” –, um motorista publicou um brasão do Exército e convocou os
colegas.
“Temos
uma grande chance em nossas mãos de aproveitar esta greve para pedir
intervenção militar, nova constituinte, e novas eleições sem os comunistas, e
junto com esta intervenção a caçada a todos estes ladrões que estão no governo
(…) O exército entraria em ação em uma semana, vejam, podemos estar a uma
semana do fim desta roubalheira toda, está em nossas mãos, quem apoia
compartilha e curte.”
A reação de apoio impressiona: “A situação que o
Brasil está hoje era para o exército já ter tomado de conta dos poderes”, dizia
um. “A nossa bandeira jamais será vermelha.”
Através da porta-voz
Carolina Rangel, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) se
manifestou sobre os discursos pró-intervenção militar:
— Acredito que a intervenção
militar seja uma bandeira levantada por alguns caminhoneiros porque essa pode
ser a alternativa que eles veem para sanar esses constantes casos de corrupção
no país. Mas não posso dizer que a Abcam apoia a intervenção. Se o caminhoneiro
X, Y ou Z acredita que a intervenção é o melhor caminho, a gente aceita. A
gente não tolhe o direito de manifestação política de ninguém, é liberdade de
expressão. Não temos ligação com nenhum partido político, nem com o MST, nem os
pró-Lula, nem os Fora Temer. Não temos nenhuma ligação ou envolvimento político
dessa natureza. A nossa insatisfação reflete a da população como um todo.
Apesar de grande parte dos brasileiros não abastecerem seus carros com diesel,
que é o nosso pleito
específico, todo mundo está sendo onerado com o aumento
dos combustiveis e com a inflação em geral. É até bom saber que os
caminhoneiros que estão na ponta estão levando a politica da Abcam de não ter
vínculo com partido politico, ou com a CUT, ou o movimento dos sem-terra. Não
levantamos nenhuma bandeira, a não ser a do transportador autônomo, que é
reduzir impostos e preço do combustível.
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